Fado corrido
vinho dançado
fado sombrio
vinho despejado
na noite
numa esquina do Bairro alto
"Come, fill the Cup, and in the fire of Spring Your Winter-garment of Repentance fling: The Bird of Time has but a little way To flutter--and the Bird is on the Wing." Omar Khayyam O vinho, ou tudo o que bebemos (recebemos) é algo pelo que temos de estar agradecidos. Tudo nos deve fazer feliz como o vinho que bebemos.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Os teus cabelos longos
O teu negro cabelo cai-te pelos ombros
e brilha quando cantas
por breves instantes
os teus olhos, entreabertos
olham-me profundamente
como o fado me toca no vinho
como o vinho me toca no fado
e brilha quando cantas
por breves instantes
os teus olhos, entreabertos
olham-me profundamente
como o fado me toca no vinho
como o vinho me toca no fado
A tasca e o mármore, na sombra
A mesa de mármore
branco e castigado pelos anos
de lamentos e alegrias.
No canto da tasca
que já não existe
zangado,
bebo na sombra
branco e castigado pelos anos
de lamentos e alegrias.
No canto da tasca
que já não existe
zangado,
bebo na sombra
A agonia
Esta noite não estou só.
Com meus sonhos,
no meu sono acordado,
canto o meu simples fado de
sonhos enrodilhados
no passado
que como maldição me persegue no presente
com eles
com ele
tudo canto
espicaçando tudo junto no meu peito repleto
dando graças ao vinho
bebo, doendo
martirizando-me
e uma estranha felicidade
acompanha esta
agonia
Com meus sonhos,
no meu sono acordado,
canto o meu simples fado de
sonhos enrodilhados
no passado
que como maldição me persegue no presente
com eles
com ele
tudo canto
espicaçando tudo junto no meu peito repleto
dando graças ao vinho
bebo, doendo
martirizando-me
e uma estranha felicidade
acompanha esta
agonia
O Vinho e a bondade de Deus
Estou extasiado,
pela bondade de Deus
pois só de Ti poderia vir
este vinho tão bondoso
pela bondade de Deus
pois só de Ti poderia vir
este vinho tão bondoso
O amor da mulher e do homem
Se no amor
o desepero dum homem
por uma mulher
é grande
imenso deve ser
o duma mulher
deixo-a chorando
e fadando
e bebo nos braços doutra
pra não me matar
amando
o desepero dum homem
por uma mulher
é grande
imenso deve ser
o duma mulher
deixo-a chorando
e fadando
e bebo nos braços doutra
pra não me matar
amando
O amor puro, Deus e o vinho cantado
Este amor puro
esta voz chorada
na bebedeira da noite
esta voz cantada
velha e vagabunda
a Deus entregue
o amor apaga-se
e Deus deu-me o vinho
esta voz chorada
na bebedeira da noite
esta voz cantada
velha e vagabunda
a Deus entregue
o amor apaga-se
e Deus deu-me o vinho
A Noite
Já nas últimas
Ainda tenho uma garrafa
dum vinho d'algures
d'algum lugar seco
e encurtilhado
frente ao mar calmo
sentado
qual lobo velho
na areia fresca da noite
lua mergulha a sua luz nisto tudo
e em todos os meus sentidos
e um pedaço de pão
d'algum lugar seco
e encurtilhado
e o tinto
como a noite
escorrega livremente
http://www.youtube.com/watch?v=1A-0ZUqAdHo&feature=related
Ainda tenho uma garrafa
dum vinho d'algures
d'algum lugar seco
e encurtilhado
frente ao mar calmo
sentado
qual lobo velho
na areia fresca da noite
lua mergulha a sua luz nisto tudo
e em todos os meus sentidos
e um pedaço de pão
d'algum lugar seco
e encurtilhado
e o tinto
como a noite
escorrega livremente
http://www.youtube.com/watch?v=1A-0ZUqAdHo&feature=related
Numa casa Portuguesa
"Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa..."
Se pensarem bem nisto, é muita verdade junta.
pão e vinho sobre a mesa..."
Se pensarem bem nisto, é muita verdade junta.
Dor e beber
Hoje ouvi de novo a Amália a cantar a "Mariquinhas"....
"...pois dar de beber à dor é o melhor..."
Como povo sofredor que somos, se assim fizermos, estaremos a ajudar a economia nacional consumindo muito vinho e muita ginginha
Ah grande Fadista.
"...pois dar de beber à dor é o melhor..."
Como povo sofredor que somos, se assim fizermos, estaremos a ajudar a economia nacional consumindo muito vinho e muita ginginha
Ah grande Fadista.
domingo, 24 de maio de 2009
Atrevimento
Tanta mentira
tudo é tão grande
tudo é tão imenso
divido-me
corto-me
entrego-me
e não existe fim
que atrevimento dizerem que Deus disse
eu bebo e sei que nada sei
tudo é tão grande
tudo é tão imenso
divido-me
corto-me
entrego-me
e não existe fim
que atrevimento dizerem que Deus disse
eu bebo e sei que nada sei
O espírito
Os maus bebem
e são maus
Os bons bebem
e são bons
e todos bebem
e são como todos
não há maior harmonia
e são maus
Os bons bebem
e são bons
e todos bebem
e são como todos
não há maior harmonia
As Dunas do Alentejo
As dunas do Alentejo
secam-me garganta
A maresia quebra-me o passado
ao beber o primeiro copo
na tasca mais proxima,
penso no coitado do passarinho
que frito
com alho
com vinho
jaz no meu prato
....~
quem me provará
estará sentado com vista pró mar?
secam-me garganta
A maresia quebra-me o passado
ao beber o primeiro copo
na tasca mais proxima,
penso no coitado do passarinho
que frito
com alho
com vinho
jaz no meu prato
....~
quem me provará
estará sentado com vista pró mar?
O vinho e Deus
Se nada está provado
daqui a pouco
quando não existir
não existirei
de que serve não beber?
Deus!
Como amo Deus!
....?....!
daqui a pouco
quando não existir
não existirei
de que serve não beber?
Deus!
Como amo Deus!
....?....!
O inverno
Inverno
rigoroso
chego de viagem com o meu mestre
aquecemos umas brazas
ardem debaixo da mesa
bebemos
choro
rigoroso
chego de viagem com o meu mestre
aquecemos umas brazas
ardem debaixo da mesa
bebemos
choro
Portugal e o vinho
É mesmo verdade
tenho espinhos no meu coração
picam
doem-me
prefuram-me
tudo com dor
contínua
constante
como um rio
como bom português
nada recuso
e aceito mais um copo
tenho espinhos no meu coração
picam
doem-me
prefuram-me
tudo com dor
contínua
constante
como um rio
como bom português
nada recuso
e aceito mais um copo
Obrigado meu Deus
Que coisa estranha
o vinho
quando estou triste, entristece-me
quando estou alegre
alegra-me
só de Deus poderia vir tal dádiva
obrigado meu Deus
o vinho
quando estou triste, entristece-me
quando estou alegre
alegra-me
só de Deus poderia vir tal dádiva
obrigado meu Deus
A Rainha Calinacho
A Rainha Calinacho
visitava o meu avô
sentava-se numa caixa
qual trono
e bebiam pela noite adentro
Que saudades das coisas que nunca poderia ter vivido
visitava o meu avô
sentava-se numa caixa
qual trono
e bebiam pela noite adentro
Que saudades das coisas que nunca poderia ter vivido
O vinho e o desterro
Cuanhama
tudo por Deus foi criado
inferno
de calor
desterrado,
de tudo
a seca de anos
os anos de seca
o vinho
tudo por Deus foi criado
inferno
de calor
desterrado,
de tudo
a seca de anos
os anos de seca
o vinho
O vinho e a solidão
No campo
só
o cheiro da esteva
o fim do dia
a noite que chega
os cheiros
os sons
os movimentos,
do entardecer
Não há solidão maior
do que o olhar para a garrafa vazia
só
o cheiro da esteva
o fim do dia
a noite que chega
os cheiros
os sons
os movimentos,
do entardecer
Não há solidão maior
do que o olhar para a garrafa vazia
O vinho e o atrevimento
Bebo e
bebo
e
bebo
olho à minha volta
atrevidos!
porque pensam eles que são melhores?
bebo
e
bebo
olho à minha volta
atrevidos!
porque pensam eles que são melhores?
O vinho e o pão
Interessante:
no outro dia, uns amigos meus recusaram comer pão de um outro amigo que amassara o pão
pois viram que o suor dele caia na massa
mas dizem que o pão caseiro é o melhor
isto é uma contradição
obviamente esses gajos não bebem
nem sentem
no outro dia, uns amigos meus recusaram comer pão de um outro amigo que amassara o pão
pois viram que o suor dele caia na massa
mas dizem que o pão caseiro é o melhor
isto é uma contradição
obviamente esses gajos não bebem
nem sentem
O vinho sem amor, irrita
Antes arrependia-me
agora borrifo-me
.,......
mas irrita-me
este vinho não era de boa qualidade
não foi feito com amor
agora borrifo-me
.,......
mas irrita-me
este vinho não era de boa qualidade
não foi feito com amor
O vinho e o fado
Na tasca
guitarras e maus fadistas
vinho no copo sempre a encher
fado
Olho minha volta
fado
trocam-me os copos
olho à minha volta
fado
ah
se não fosse o vinho
guitarras e maus fadistas
vinho no copo sempre a encher
fado
Olho minha volta
fado
trocam-me os copos
olho à minha volta
fado
ah
se não fosse o vinho
O vinho e a saudade
Estou só
sinto saudade de algo
pois sou português
há espinhos que penetram profundamete dentro do meu coração
e o meu espirito carrega com este fardo
que aumenta de hora a hora
bebo
e o vinho descobre
em mim
que tudo isto é hilariante
sinto saudade de algo
pois sou português
há espinhos que penetram profundamete dentro do meu coração
e o meu espirito carrega com este fardo
que aumenta de hora a hora
bebo
e o vinho descobre
em mim
que tudo isto é hilariante
A família e o amor
A família é importante
mas
não há maior alegria do que beber
com aqueles que te amam
mas
não há maior alegria do que beber
com aqueles que te amam
O Tudo e o Nada
Estando sóbrio
não entendo o infinito que por Ele foi criado
Estando ébrio
estou Nele
sou Dele
a Ele pertenço
Não há principio nem fim
Não há ser ou não ser
Não há o Nada nem o Tudo
Não há o Tudo nem o Nada
e
o Tudo vem do Nada
isto descobri quando tinha 16 anos
não entendo o infinito que por Ele foi criado
Estando ébrio
estou Nele
sou Dele
a Ele pertenço
Não há principio nem fim
Não há ser ou não ser
Não há o Nada nem o Tudo
Não há o Tudo nem o Nada
e
o Tudo vem do Nada
isto descobri quando tinha 16 anos
Deus e a ressaca
Deus permeia-me
Deus é-me
Deus deu-me
Deus criou-me
Por mais que tente,
não há ressaca de Deus
Deus é-me
Deus deu-me
Deus criou-me
Por mais que tente,
não há ressaca de Deus
Os Padres e eu
Não vejo diferença alguma entre um Padre e eu
temos a mesma cultura
os mesmos estudos
as mesmas ovelhas tresmalhadas
os mesmos pecados que só Deus conhece
mas
Se ele beber
temos algo em comum
temos a mesma cultura
os mesmos estudos
as mesmas ovelhas tresmalhadas
os mesmos pecados que só Deus conhece
mas
Se ele beber
temos algo em comum
Os casados e os solteiros
sou solteiro e livre
bebo e bebem comigo
os casados esperam que eu me comporte, como casado
que pensem na sua vida antes de se casar;
eu pensei!
bebo e bebem comigo
os casados esperam que eu me comporte, como casado
que pensem na sua vida antes de se casar;
eu pensei!
Eles e elas
Bebo e bebo
pouco a pouco os homens retiram-se
(por medo? pela verdade?)
ficam as mulheres
Eles sentem-se retraidos
elas curiosas
pouco a pouco os homens retiram-se
(por medo? pela verdade?)
ficam as mulheres
Eles sentem-se retraidos
elas curiosas
Duas e mais uma
é sempre melhor abrir duas garrafas
duas devem ser colocadas cerca do fogão
uma terceira deve ser aberta para ir provando
duas devem ser colocadas cerca do fogão
uma terceira deve ser aberta para ir provando
Provador de vinhos
Essa coisa de povar os vinhos até é bom.
Mas é um grande desperdicio
O primeiro que gosto no vinho é o som
gosto então de ve-lo correr
e todo o copo encher
bebo-o depois provando-o sem vicio
inspiro-o e sorvo-o porque é de bom tom
pouso o copo e verto mais sem suplício
ao acabar nunca viro o copo ao contrário
não vá alguém pensar que sou ordinário
Isto não é um poema
Mas é um grande desperdicio
O primeiro que gosto no vinho é o som
gosto então de ve-lo correr
e todo o copo encher
bebo-o depois provando-o sem vicio
inspiro-o e sorvo-o porque é de bom tom
pouso o copo e verto mais sem suplício
ao acabar nunca viro o copo ao contrário
não vá alguém pensar que sou ordinário
Isto não é um poema
terça-feira, 19 de maio de 2009
Omar Khayyam: algumas das minhas preferidas
Dreaming when Dawn's Left Hand was in the Sky
I heard a Voice within the Tavern cry,
"Awake, my Little ones, and fill the Cup
Before Life's Liquor in its Cup be dry."
.....
Come, fill the Cup,
and in the Fire of Spring
The Winter Garment of Repentance fling:
The Bird of Time has but a little wayTo fly--and Lo! the Bird is on the Wing.
.....
And if the Wine you drink, the Lip you press,
End in the Nothing all Things end in--Yes-
Then fancy while Thou art,
Thou art but what
Thou shalt be--Nothing--Thou shalt not be less.
.....
And David's Lips are lock't; but in divine
High piping Pelevi, with "Wine! Wine! Wine!
Red Wine!"--the Nightingale cries to the Rose
That yellow Cheek of hers to'incarnadine.
....
Then to this earthen Bow
l did I adjourn
My Lip the secret Well of Life to learn:
And Lip to Lip it murmur'd--
"While you live,Drink!--for once dead you never shall return."
.....
All my companions, one by one died
With Angel of Death they now reside
In the banquette of life same wine we tried
A few cups back, they fell to the side.
.....
Ah, make the most of what we yet may spend,
Before we too into the Dust Descend;
Dust into Dust, and under Dust, to lie,
Sans Wine, sans Song, sans Singer and--sans End!
.....
And, as the Cock crew, those who stood before
The Tavern shouted--"Open then the Door!
You know how little while we have to stay,
And, once departed, may return no more."
.....
And when Thyself with shining Foot shall pass
Among the Guests Star-scatter'd on The Grass,
And in Thy joyous Errand reach the Spot
Where I made one--turn down an empty Glass!
http://www.okonlife.com/poems/
I heard a Voice within the Tavern cry,
"Awake, my Little ones, and fill the Cup
Before Life's Liquor in its Cup be dry."
.....
Come, fill the Cup,
and in the Fire of Spring
The Winter Garment of Repentance fling:
The Bird of Time has but a little wayTo fly--and Lo! the Bird is on the Wing.
.....
And if the Wine you drink, the Lip you press,
End in the Nothing all Things end in--Yes-
Then fancy while Thou art,
Thou art but what
Thou shalt be--Nothing--Thou shalt not be less.
.....
And David's Lips are lock't; but in divine
High piping Pelevi, with "Wine! Wine! Wine!
Red Wine!"--the Nightingale cries to the Rose
That yellow Cheek of hers to'incarnadine.
....
Then to this earthen Bow
l did I adjourn
My Lip the secret Well of Life to learn:
And Lip to Lip it murmur'd--
"While you live,Drink!--for once dead you never shall return."
.....
All my companions, one by one died
With Angel of Death they now reside
In the banquette of life same wine we tried
A few cups back, they fell to the side.
.....
Ah, make the most of what we yet may spend,
Before we too into the Dust Descend;
Dust into Dust, and under Dust, to lie,
Sans Wine, sans Song, sans Singer and--sans End!
.....
And, as the Cock crew, those who stood before
The Tavern shouted--"Open then the Door!
You know how little while we have to stay,
And, once departed, may return no more."
.....
And when Thyself with shining Foot shall pass
Among the Guests Star-scatter'd on The Grass,
And in Thy joyous Errand reach the Spot
Where I made one--turn down an empty Glass!
http://www.okonlife.com/poems/
Os Provadores
os provadores de vinho estão sempre sóbrios
que disparate
"Todos servem primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, servem o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!"
João 2,1-11
que disparate
"Todos servem primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, servem o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!"
João 2,1-11
Tunilingus
Gosto muito da cantiga da Tuna Tunilingus
"...se é branco ou tinto, pouco m´importa,
se não houver vou bater a outra porta..."
Quem a escreveu sabia por as coisas no devido contexto
http://tunilingus.wordpress.com/cancioneiro/
"...se é branco ou tinto, pouco m´importa,
se não houver vou bater a outra porta..."
Quem a escreveu sabia por as coisas no devido contexto
http://tunilingus.wordpress.com/cancioneiro/
O velho e a adega
Era pequenino
e entrei pela adega
estava lá um homem velho
e vermelho
e tudo cheirava ao mesmo
e entrei pela adega
estava lá um homem velho
e vermelho
e tudo cheirava ao mesmo
Grande mulher
Era uma grande mulher
grande
e bebia grandes copos de vinho
fiquei horas com ela
As suas altas gargalhadas
o seus lábios rubros
do liquido sagrado
o sagrado realmente é superior ao profano
grande
e bebia grandes copos de vinho
fiquei horas com ela
As suas altas gargalhadas
o seus lábios rubros
do liquido sagrado
o sagrado realmente é superior ao profano
O vinho e o fado
Elas serviram-me vinho
a noite tornou-se uma alvorada
o último fadista adormeceu a cantar
Também, já não lhe percebia palavra
a noite tornou-se uma alvorada
o último fadista adormeceu a cantar
Também, já não lhe percebia palavra
Na Rua da Escola Politécnica nº 60
Na rua da Escola Politécnica nº 60
há uma roseira de rosas da cor do vinho agreste
perfumadas como já não há nenhuma
mesmo perfumadas
Mas o Reitor mandou-nos dali para fora
quem regará a roseira
quem terá saudades dela
quem beberá o vinho da sua cor
há uma roseira de rosas da cor do vinho agreste
perfumadas como já não há nenhuma
mesmo perfumadas
Mas o Reitor mandou-nos dali para fora
quem regará a roseira
quem terá saudades dela
quem beberá o vinho da sua cor
O vinho e os seios firmes
gostei de ver o vinho escorrer por entre esses teus seios firmes
mas da proxima vez
serve-o num copo
mas da proxima vez
serve-o num copo
As senhoras e o vinho
Dizem que as senhoras não devem servir o vinho
pois o que eu quero é que me sirvam
e mais
pois o que eu quero é que me sirvam
e mais
O Verão
Não quero ser interrompido
Nesta conversa longa
profunda
saudosa
com o calor
com a sombra
com o som suave das folhas secas pisadas pelo vento
com o vinho tinto
tinto
tinto
Nesta conversa longa
profunda
saudosa
com o calor
com a sombra
com o som suave das folhas secas pisadas pelo vento
com o vinho tinto
tinto
tinto
Canta o roxinol
Oiço o fado
lua nova
o cheiro do vinho e do tabaco
mas pela noite dentro
canta o roxinol
o cheiro das estevas e ervas quentes e terra seca e gretada
o vinho é tinto do alentejo
lua nova
o cheiro do vinho e do tabaco
mas pela noite dentro
canta o roxinol
o cheiro das estevas e ervas quentes e terra seca e gretada
o vinho é tinto do alentejo
Caprimulgus Europaeus
É lua cheia
Estou na varanda
tenho caracois por mim colhidos
quentinhos
torradas
tinto
o canto do noitibó
http://www.xeno-canto.org/europe/species.php?query=gen:Caprimulgus+species:europaeus
Estou na varanda
tenho caracois por mim colhidos
quentinhos
torradas
tinto
o canto do noitibó
http://www.xeno-canto.org/europe/species.php?query=gen:Caprimulgus+species:europaeus
Coisas Darwinnianas
Numa festa
seguro um livro e cai-me das mãos
os copos seguram-se aos dedos
há coisas que são darwinianas
seguro um livro e cai-me das mãos
os copos seguram-se aos dedos
há coisas que são darwinianas
Pipa de vinho
Tenho a certeza de que entrei em casa
e a porta estava fechada
Os meus sapatos cheiram a pipa de vinho
e a porta estava fechada
Os meus sapatos cheiram a pipa de vinho
Debaixo
Debaixo da minha mesa
Tenho uma garrafa
Disso estou certo
Ao sair à rua
As pedras da calçada são-me simpáticas
Tenho uma garrafa
Disso estou certo
Ao sair à rua
As pedras da calçada são-me simpáticas
Não há
Não há vinho que cure a saudade do copo de vinho de ontem
O meu velho mestre
Acompanho o meu velho mestre
Copo a copo
gesto a gesto
ouvindo
rindo
bebendo
Se ele fosse português
Sentiria saudades
Copo a copo
gesto a gesto
ouvindo
rindo
bebendo
Se ele fosse português
Sentiria saudades
Li Bai
Bebendo ao luar
Ergo entre as flores um copo de vinho
e convido o luar
Acabo também por convidar
a minha sombra
Mas a lua não sabe beber
e a minha sombra não me consegue acompanhar
Companheiros de um instante– a lua a minha sombra e eu – vamos brindar à primavera.
Enquanto canto a lua vagueia
Enquanto danço a minha sombra desespera
Esqueçamos tudo enquanto estivermos a beber
Que cada um se afastequando o dia chegar
Na longínqua Via Láctea
mais cedo ou mais tardenos voltaremos a encontrar
—
Jorge Sousa Braga, in: Jorge Sousa Braga (org.), O vinho e as rosas. Antologia de poemas sobre a embriaguez, Lisboa, 1955
Ergo entre as flores um copo de vinho
e convido o luar
Acabo também por convidar
a minha sombra
Mas a lua não sabe beber
e a minha sombra não me consegue acompanhar
Companheiros de um instante– a lua a minha sombra e eu – vamos brindar à primavera.
Enquanto canto a lua vagueia
Enquanto danço a minha sombra desespera
Esqueçamos tudo enquanto estivermos a beber
Que cada um se afastequando o dia chegar
Na longínqua Via Láctea
mais cedo ou mais tardenos voltaremos a encontrar
—
Jorge Sousa Braga, in: Jorge Sousa Braga (org.), O vinho e as rosas. Antologia de poemas sobre a embriaguez, Lisboa, 1955
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